(O texto deve ser lido ao som do vídeo que o acompanha, uma vez que é inspirado na sua melodia).
Tudo começou num súbito doce e simples, numa suavidade inelutável, mas irracional para quem desconhecesse o passado daquele fá vazio caminhando numa marcha lenta, mas movimentada. Encontrava-se visivelmente sobressaltado, com o coração arrítmico em semicolcheias desligadas, dando dó, num tom meio alterado.
Após a pausa, seguiu em redor de lá em lamentos agudos, cuja repetição incoerente, num piano mais profundo, revelava alguma conformidade. Mas quando olhou o ponto dominante, com valor de reticências, cresceu assombrosamente na oitava, mergulhando num êxtase surreal, numa alegria boémia, apaixonada.
De seguida, com a tranquilidade melancólica - mas radiante - de quem observa o divino, aproximou-se da sua tónica... Quando estava quase a alcançá-la, começou a soluçar em colcheias, num contratempo sorumbático: ela não estava lá...
A alegria modulou-se numa desesperada agonia. Os gritos penetrantes, que saltavam em sétimas, diminuíam a força do sol que nunca se chegou a mostrar. O fôlego breve desapareceu, dando lugar a lamúrias contidas e rápidas - mas igualmente sofridas - que se repetiam, cada vez mais fracas, cada vez mais mortas...
Olhava para trás e pensava em si, diminuído por circunstâncias atonais, movimentos contrários sem consonâncias paralelas e diabólicos trítonos.
O fim é expectável: nenhuma tríade poderia mais suportar tamanha dor. Então, cambaleando num coxo retardado, é finalmente sentenciado por um doloroso trilo, que o faz perder-se, como tanto desejava, na sua tónica.
Excelente, João!!!!
ResponderEliminarEstá mais que visto que vou ser leitor assíduo deste teu blogue!!!!
Muito Bom!
ResponderEliminarContinua assim!
Ana Beatriz Basílio